A Ordem dos Engenheiros Técnicos (OET), através da Secção Regional dos Açores, realizou no passado dia 30 de novembro na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada uma sessão de debate, em formato de mesa redonda, dedicada ao tema “O que fazer perante a próxima crise sísmica nos Açores?“.
Neste evento, aberto ao público em geral e ao qual assistiram mais de meia centena pessoas, pretendeu-se analisar tecnicamente e cientificamente a temática dos sismos à luz das duas últimas crises sísmicas ocorridas no arquipélago dos Açores. Num formato aberto e transversal a toda a sociedade açoriana, vislumbraram-se os efeitos causados por aqueles eventos bem como as metodologias adotadas na reação aos seus nefastos danos com o objetivo de entender qual o caminho já percorrido para evitar que, voltando a acontecer, as populações possam estar efetivamente mais seguras e mais protegidas.
De facto, embora exista o risco de ocorrência de fenómenos sísmicos em vários pontos do território nacional, foi nos Açores que ocorreram as duas últimas grandes crises sísmicas do nosso país, que, como sabemos, teve efeitos devastadores no edificado insular açoriano.
Assim, tomando como foco a realidade arquipelágica, o ponto de partida do debate teve que ver, essencialmente, com a reação das populações e dos poderes públicos então instituídos que, à luz dos acontecimentos, foi condicionada por dois modelos genericamente díspares agora analisados por elementos que participaram diretamente na reconstrução das ilhas Terceira, São Jorge, Graciosa, Pico e Faial.
A audição de quem, de forma direta, teve responsabilidades na resposta a esta catástrofe e de alguma forma contribuiu para a colocação em prática de um conjunto de soluções que aos dias de hoje podem ser analisados de forma mais distante mas não menos crítica, habilitar-nos-á à criação de mecanismos de prevenção que menorizem as futuras e eventuais consequências de eventos sísmicos similares.
Com o objetivo de sensibilizar a comunidade técnica e a população em geral para a existência de inúmeros técnicos disseminados profissionalmente pelas 9 ilhas do arquipélago que, habilitados pelas mais variadas formações, dão coerência e capacidade a um vasto leque de entidades públicas e/ou privadas na implementação de ações zeladoras dos interesses dos Açores e da generalidade dos açorianos, assumiu-se a intenção de desencadear, a nível regional e nacional, uma reflexão consistente e diversificada que tomasse como base de estudo os dois casos recentes referidos e a analise comparativa dos dois modelos de reação/intervenção então adotados.
As conclusões do debate, que se anexam, resumem-se a cinco pontos:
1. Ao nível do que se considerou serem medidas essenciais com vista à diminuição do impacto normalmente associado à ocorrência de grandes sismos é entendido, como indispensável, a realização de um levantamento das condições dos edifícios públicos estratégicos de forma a aferir o seu estado de segurança e estabelecer e identificar critérios que garantam a adoção de medidas para tornar os edifícios públicos mais resilientes à ocorrência de eventos sísmicos de grande intensidade.
2. Ao nível da prevenção, foi identificada, como mais valia, a criação de um sistema de certificação sísmica associado aos edifícios que venham a ser licenciados de forma a que seja possível não só melhorar e enriquecer o parque habitacional da Região, mas também, dar garantias de segurança às populações que os habitam.
3. Propor ao Governo Regional dos Açores, através da Secretaria Regional dos Transportes e Obras Públicas, a formação de um grupo de trabalho multidisciplinar, com o objetivo de levar a cabo, no menor tempo possível, as propostas de trabalho descritas nos dois pontos anteriores.
4. Identificada também a importância e mais valia na criação, na Universidade dos Açores, de um curso de especialização que possa formar técnicos que possam integrar uma bolsa de especialistas que garantam uma análise constante às condições no terreno de forma a servirem de apoio à decisão para as entidades públicas.
5. Definiu-se como objetivo final a realização de um novo ato público dedicado à temática dos sismos no espaço de um ano como forma de promover sensibilidades e aferir eventuais avanços que venham a ser conquistados neste período temporal.
Conheça os documentos emergentes do evento: